Nas prefeituras, com o tempo, se percebe que poucas coisas são verdades duradouras, por causa da dinâmica das administrações municipais.
Mas duas questões podemos tomar por verdade: uma delas são as crises. Elas vão ocorrer, confie em em mim. Basta esperar. A outra verdade é que problema não é crise. As pessoas tendem a confundir problemas com crise ou mesmo, em alguns casos, fazer com que os problemas virem crises.
Parece banal, mas não é: problemas se resolvem com soluções. Crises se resolvem com estratégias. Vejamos o caso do Governo Federal e a questão fiscal. O problema é gastar mais do que se arrecada. Pois bem, o governo anunciou a solução para o problema, que é cortar R$ 70 bilhões dos gastos. Poderia ter resolvido o problema, mas não a crise. Porque o corte de R$ 70 bilhões é a solução para o problema, mas a crise vai além disso.
É importante que o prefeito ou a prefeita tenha pessoas de confiança que antecipem cenários de crise, sem ser alarmistas. Aqui vão algumas dicas para identificar a crise antes de ela se concretizar: crise é algo que tende a provocar alguma ruptura e afetar muito a rotina da instituição. Portanto, em um sentido histórico, haverá um momento “pré” e um momento “pós” crise.
Para saber se devemos agir, de que forma devemos agir e quando devemos agir, podemos tentar nos imaginar no cenário em que a crise já passou: estamos iguais, piores ou melhores do que antes da crise? Para o prefeito, é tão ou mais importante se perguntar se sua imagem e reputação estarão iguais, melhores ou piores após a crise. A resposta se devemos agir, como agir e quando agir, portanto, depende dessas avaliações.
Conforme o tamanho e habilidades da equipe, durante as crises, pode ser adequado montar um pequeno comitê, com menos palpiteiros e mais pessoas práticas. Esse comitê pode ter três ou quatro pessoas, nem sempre os mesmos, porque o líder frente à crise também precisa de mais de um ponto de vista.
Toda crise vai requerer um porta-voz, que pode ou não ser o prefeito (depende da avaliação comentada acima), algum secretário, diretor. É desejável que esta pessoa tenha traquejo com a mídia, seja hábil e com racicínio rápido, tenha liberdade de dar entrevistas e passe uma imagem positiva para o público, caso não seja uma autoridade constituída, como prefeito, vice ou secretário.
Aqui vai outra verdade: nunca, mas nunca mesmo, minta para o público. Mentir e ser pego na mentira é fatal para qualquer projeto e pode, literalmente, ser fatal para a comunidade em momentos de crise (enxurradas, criminalidade, intoxicações).
Identifique personagens que podem ajudar na crise, como imprensa, instituições, formadores de opinião, parceiros interessados na solução, público interno, e construa com eles os passos para a solução. Lembre-se que, em momentos de crise, quem não estiver perto, estará longe (perto de outro alguém, portanto) e sujeito a outras influencias que não a sua ou da sua equipe.
Por fim, lembre-se que crise também é oportunidade de construir legado, reforçar ou mudar sua imagem, trabalhar na sua reputação.
Em resumo: se é crise, seja rápido, nunca minta, tenha ações coordenadas e rotinas de avaliação do impacto dessas ações. Sem perder de vista seu legado e sua reputação.
Autor: Jornalista Guarany Pacheco. Final da série de cinco artigos com o objetivo de contribuir com os novos prefeitos e prefeitas.
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