Dei um tempo na última semana para me dedicar integralmente ao BLOG DO PEPA e hoje retorno, sem depender da boa vontade de ninguém para postar esta ou aquela matéria. Escolhi este dia 29 de junho para comemorar meus 67 anos de idade. Afinal, são 46 anos de jornalismo, uma grande paixão que iniciou em janeiro de 1974 nesse paraíso chamado Balneário Camboriú.
Na época, o Jornal de Camboriú, um semanário, foi fundado pelo titular do Cartório de Registro de Imóveis, Olindor Ribeiro de Camargo. Um autodidata com projeto político. A seu pedido, meu pai, o jornalista Dorval Gonçalves, aceitou assinar como jornalista responsável, na condição do filho Pedro Paulo Gonçalves (Pepa) participar da equipe.
Feliz da vida, passei a recolher os textos dos colaboradores, redigir algumas notas e entregar na Gráfica Andréa,de propriedade do então vereador Laércio Lúcio dos Santos. Precisava levar parte do material na terça-feira para o jornal ser entregue nas manhãs de sábado. Acontece que a montagem era tipográfica, ou seja, manual, letra por letra.
O Jornal de Camboriú, para minha frustração, teve vida curta. Na verdade, só caiu a ficha depois, tratava-se de um jornal com fundo político. Camargo utilizou o jornal para apoiar as candidaturas de dois amigos, ambos da histórica República de Cabeçudas, na vizinha Itajaí : Júlio César, eleito deputado estadual, e Eduardo Lins, o Pimpa , que, se a memória não falha, ficou como suplente de deputado federal. Bem, passou a eleição e a circulação do jornal foi suspensa. Imagina ficar desempregado, sem receber nenhuma compensação trabalhista às vésperas do Natal, com muitos projetos na cabeça. Fui pescar. Exato, peguei carona numa pescaria com o Poletti, China, Erasmo Rodrigues e o Marilson Santos. Alugamos uma batera e fomos até a ilha de Arvoredo, onde ficamos por uns três dias devido ao mau tempo, que impedia o retorno devido ao perigo das fortes ondas.
Ao retornar, em conversa com meu pai, decidimos abrir um novo jornal, o Jornal O Balneário Camboriu (JBC). No dia 20 de janeiro de 1975 circulou a primeira edição, também impresso na Gráfica Andréa. A princípio tudo normal, levando as informações normalmente, circulando aos sábados.
Um fato que passou a me incomodar na época era o comportamento do prefeito Gilberto Américo Meirinho em relação ao jornal. Sempre que saia alguma noticia do MDB ele me provocava tipo “menino, toma cuidado, isso não pode”, apontando para o jornal. Eu tinha apenas 22 anos, mas sorria e me retirava. Num determinado dia, subindo as escadas da Prefeitura, que ficava na avenida Central, nos encontramos. Prepotente, ele exclamou irritado que tinha proibido as publicações dos atos oficiais no jornal. Não deixei de dizer uns desaforos e fui pra casa. Redigi um editorial de capa, levei o material para a gráfica e fui informado pelo Laércio, que não iria mais imprimir o jornal. “Paulinho, sou o líder do Governo na Câmara e além disso todo o serviço gráfico da prefeitura sou eu que faço. Espero que você entenda”, foi o que escutei.
O presidente do MDB, Jonas Ramos Martins, um lageano que já tinha sofrido na carne os excessos do regime militar, me procurou. Ele sabia de tudo e se comprometeu a me ajudar a conseguir uma outra gráfica.
Enquanto isso, saí de casa para não molestar meu pai, que tinha outros 10 filhos para se preocupar. Ao mesmo tempo também providenciei a troca do jornalista responsável. Meu tio, o jornalista e compositor gaúcho Demóstenes Gonzalez, que já fora detento por motivo político ,no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro.
Passaram-se alguns dias e lá veio o Jonas Martins no seu fusquinha de cor verde. Sorridente, informou que o problema da gráfica estava resolvido. Explicou que tinha procurado pelo Elias Adaime, editor do O Correio, em Itajaí, um jornal de oposição ao prefeito da época, Frederico Olíndio de Souza, o Fred. Acompanhado pelo Elias Adaime, um ex-deputado federal do Rio Grande do Sul, não tenho certeza, mas parece que teve o mandato cassado pelo regime militar, fui levado até a Gráfica Maracolor, na rua Anita Garibaldi. Meio desconfiado, o proprietário Vicente Brigoni concordou em assumir a impressão do Jornal O Balneário Camboriú.
Para não deixar de circular no sábado seguinte dormi duas noites sobre resmas empilhadas de papel. Era o único horário disponível e topei a parada. Mara e Sidney, filhos do Vicente, também decidiram cooperar. Mara digitava o material numa moderna máquina e o Sidney se encarregava da diagramação. Agora a impressão era offset, eliminava os clichês que tinham que ser feitos em Blumenau ou Joinville. Melhor explicando, no sistema tipográfico, para se colocar uma foto no jornal era necessário enviar para um dos laboratórios existentes em Blumenau ou Joinville. Uns dois dias era o tempo necessário para aguardar o clichê. Mas na impressão offset era tudo mais ágil.
Com satisfação e orgulho cheguei em Balneário Camboriú e passei a distribuir o jornal, com moderna diagramação e bastante fotos.
Bem, por hoje é só. Voltarei em breve com outros relatos da minha vida profissional.
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